Archive for the ‘Geografia’ Category

A masculinização da Corte Velha

13 Dezembro 2021

Há 10 anos, em dezembro de 2011, foi publicada no Diário da República uma alteração do «Plano de Urbanização da herdade de Corte Velho» que tinha sido aprovado em dezembro de 2007.

Curiosamente, na freguesia do Azinhal existe a Corte Velha e não existe qualquer Corte Velho.

Esta mudança de sexo, ridícula e bizarra, deveria ter sido corrigida em nome do respeito que merece a toponímia e a história local.

Inicialmente projetado com um campo de golfe e 3 estabelecimentos hoteleiros de 5 estrelas, o empreendimento turístico foi obrigado a aceitar alterações impostas pelo ministério do ambiente.

Passados 10 anos sobre a adaptação do Plano de Urbanização, tudo continua na mesma e ninguém teve ainda a ideia de corrigir o nome.

Antes que cheguem as máquinas ao terreno (junto ao rio Guadiana), haja quem trate de corrigir o que falta corrigir.

O panorama atual do território do Azinhal

15 Junho 2018

Foto João Xavier - Placa do Azinhal à beira da Estrada Nacional 122

Em período de discussão pública, o PNPOT (Programa Nacional da Política e Ordenamento do Território) traz-nos algumas atualizações sobre os territórios.

A área da freguesia do Azinhal está enquadrada em duas tipologias:

  1. É uma área em perda demográfica;
  2. É uma área de suscetibilidade à desertificação.

A perda demográfica do Azinhal é considerada com panorama pessimista para os próximos anos: com projeção de perda superior a 15% até ao ano 2030, numa franja mais gravosa dentro do contexto de um país que ocupa a cauda dos índices de fertilidade.

A suscetibilidade à desertificação vem na sequência do que foi estudado durante a segunda metade do séc. XX: a situação climática, os solos pobres e rochosos e a fraca dotação florestal denotam diminuição da pluviosidade, maiores períodos de carência hídrica e a consequente implantação de vegetação resistente à seca.

O retrato está feito. É imprescindível projetar o Azinhal com novos rumos, com pessoas e políticas resilientes que maximizem as suas virtudes perante um Algarve cosmopolita e demasiado turistificado.

A freguesia do Azinhal é um território atrativo, com património natural e humano a preservar e a valorizar.

Importa identificar as pressões que existem sobre essas mais-valias e apoiar estrategicamente quem possa investir criativamente e desenvolver socioeconomicamente este território.

O Azinhal em 1850

9 Março 2018

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Em 1850, foi publicado um estudo que ainda hoje é uma referência essencial para os investigadores da História do Algarve: «Algarve – descrição geográfica e geológica desta província», por Charles Bonnet.

O ilustre investigador francês, que correu o Algarve de ponta a ponta, viu a sua obra aprovada e impressa pela Academia Real de Ciências de Lisboa.

Naquela obra, a referência ao concelho de Castro Marim é curiosamente marcada pela aldeia que sobressaía em todo o município: o Azinhal.

Escreveu então Charles Bonnet:

«O concelho de Castro Marim possui uma pequena população, sendo de destacar a aldeia do Azinhal, a duas pequenas léguas de Castro Marim e a meia do Guadiana. Esta aldeia está já nas montanhas, construída sobre uma elevação da qual se disfruta de uma ampla paisagem. A sua população é de 1121 habitantes.»

O Marroquil

13 Janeiro 2018

KODAK Digital Still Camera

Situada a cerca de 186 metros de altitude, a quase 15 Km do Azinhal, Marroquil é, em termos populacionais, a 6ª maior localidade da freguesia do Azinhal.

Ali podemos fazer um sinuoso percurso pedestre de 15 Km devidamente sinalizado como PR 7 e batizado como «caminhos da cabra algarvia», onde podemos encontrar facilmente rebanhos de caprinos de raça algarvia e árvores com interesse relevante.

No ano 2011, foram recenseados no Marroquil 18 habitantes e 15 edifícios.

No ranking das edificações, Marroquil é a 10ª maior povoação da freguesia do Azinhal, sendo de registar a particularidade de só ter atualmente edifícios construídos no séc. XX.

As habitações existentes no Marroquil são apenas de 1 ou 2 pisos, tendo apenas uma delas sido construída entre 1919 e 1945 (em adobe/pedra), 7 entre 1946 e 1960, duas entre 1971 e 1980, outra entre 1981 e 1990, 3 entre 1991 e 1995 e uma entre 1996 e o ano 2000.

«Marroquil» é uma palavra que indica a origem marroquina, indiciando a presença árabe. Já foram ali encontrados vestígios arqueológicos romanos e árabes, nomeadamente cerâmica vidrada decorada de origem muçulmana, de um extenso povoado conhecido como Alcaria de Marroquil.

 

A seca de 1874/75 e o Azinhal

12 Agosto 2017

KODAK Digital Still Camera

Em 1874 e 1875, o Algarve sofreu uma seca severa que deixou a região num estado de calamidade.

Foi já no final daquele período de crise que José de Beires, então Governador Civil do Algarve, escreveu sobre o Azinhal:

“Tem pouco arvoredo, alem de um importante pomar de larangeiras, que nada tem soffrido com a estiagem. Tem também poucas vinhas, e essas estragadas. A sua principal cultura é de searas, e estas darão uma producção media de 2 sementes, que em anno regular é de 5 ou 6. Este resultado é devido principalmente a terem sido invadidas por agua salgada as principaes terras que são as várzeas da moita. Só poderiam produzir, se tivessem caído copiosas chuvas, que as adoçassem.”

A crise alimentar (então denominada crise alimentícia) foi trágica, com a produção de trigo a ser miserável, tal como as de azeitona, figo e amêndoa, que tinham grande importância económica e financiavam habitualmente o bem-estar de muitas famílias.

Bastantes poços secaram e a miséria atingiu níveis confrangedores que fizeram o Estado português apoiar e subsidiar diversas atividades regionais.

A chuva haveria de voltar já no final do outono de 1875, anunciando fortes aguaceiros em dezembro, com inundações históricas do Guadiana (nesse mês) e do Arade (em janeiro de 1876).

Será útil recordar que naquela época não existiam as barragens de Odeleite e Beliche, que atualmente regulam o fornecimento de água ao sotavento algarvio.

José de Beires, um advogado beirão nascido em Lamego em 1825 e falecido em Lisboa em 1895, foi Governador Civil de Faro de 25 de setembro de 1869 a 25 de maio de 1870 e de 10 de outubro de 1871 a 25 de abril de 1877, tendo elaborado 6 relatórios de grande qualidade sobre o Algarve, abordando diversas temáticas, como, por exemplo, a saúde, a agricultura, as obras públicas, os expostos, etc..

O Azinhal e as azinheiras

20 Julho 2016

foto odiana - azinheira

O topónimo Azinhal deriva do nome coletivo «azinhal», que significa «conjunto de azinheiras». Indica, só por si, que há muitos séculos a zona atualmente ocupada pela aldeia do Azinhal era referenciada por campos com muitas azinheiras.
As azinheiras são árvores de porte médio, com copa redonda, densa e vistosa, geralmente com uma altura entre 10 e 25 metros de altura.
É latim, estas fagáceas de folhas discolores ligeiramente espinhadas são conhecidas pelos botânicos como «quercus ilex».
São sensíveis ao frio e à sombra e resistentes ao calor, ocupando facilmente terrenos serranos até aos 1500 metros de altitude.
Nos tempos modernos, tem-se constatado que as azinheiras resistem muito bem à poluição urbana.
Com uma longevidade que pode ir até aos mil anos, as azinheiras frutificam a partir dos 8 a 10 anos de idade, produzindo bolotas doces que são ancestralmente utilizadas para alimentar animais.
A madeira de azinho, muito resistente à putrefação, é desde a Antiguidade utilizada na construção de edifícios, no fabrico de barris e carvão e ainda como lenha (pelo seu alto potencial calorífero).
O valor patrimonial da azinheira foi reconhecido pela legislação portuguesa desde 2001, tendo sido decisivo para a dificuldade de construção de determinados empreendimentos turísticos projetados para a freguesia do Azinhal.

Caminhantes no Azinhal

9 Março 2016

foto joao xavier - caminhada no azinhal

O Azinhal é procurado por muitos amantes da Natureza e caminhantes.
A freguesia do Azinhal dispõe de uma rede de percursos pedestres devidamente homologados e sinalizados ( o PR 3 – Uma janela para o Guadiana – e a GR 15 – A grande rota do Guadiana), mas nem só esses itinerários são percorridos prazenteiramente por quem nos visita.
Mesmo durante o inverno, é fácil encontrarmos quem se mete ao caminho, para exercitar e oxigenar o corpo, alegrar a alma e conhecer o património natural e humano do território azinhalense.
A velha máxima latina «mens sana in corpore sano» vive-se melhor no Azinhal…

A estação meteorológica da ribeira do Beliche

25 Setembro 2015

foto joão xavier - estação meteorológica da ribeira do beliche

Desde 14 de fevereiro de 2001, a freguesia do Azinhal está dotada de uma segunda estação meteorológica. Nessa data entrou em funcionamento a estação meteorológica da Ribeira do Beliche.
Identificada com o código 30M/06G e alimentada energeticamente por um painel de energia solar, esta estação udográfica automática sem telemetria situa-se a 71 metros de altitude, junto à Barragem do Beliche, em propriedade pública.
Com a estação meteorológica dos Corujos, a estação meteorológica da Ribeira do Beliche desempenha um papel essencial no registo de dados meteorológicos do sotavento algarvio: monitoriza a precipitação pluviométrica e o vento (velocidade e direção).
O armazenamento dos dados processa-se autónoma e automaticamente em formato digital.
No Algarve estão presentemente ativas 32 estações como as da freguesia do Azinhal (esta e a dos Corujos) e 10 estações climatológicas (que medem também a temperatura e a humidade do ar, a evaporação, a radiação solar e a insolação).

O Azinhal visto por Charles Bonnet

14 Julho 2015

O Azinhal refernciado por Charles Bonnet

Charles Bonnet foi um ilustre engenheiro, geólogo, geógrafo e investigador francês que em 1850 publicou um dos mais importantes estudos sobre o Algarve, editado pela Academia Real de Ciências de Lisboa.
O livro («Algarve – Descrição geográfica e geológica») é ainda hoje uma referência essencial para a bibliografia e a memória coletiva do Algarve.
Quando referenciou o concelho de Castro Marim, Charles Bonnet retratou assim o Azinhal:
«O concelho de Castro Marim possui uma reduzida população, em que destaco a aldeia do Azinhal, a duas pequenas léguas para nor-nordeste de Castro Marim e a meia légua do Guadiana. Esta freguesia situa-se já nas montanhas e está construída sobre uma elevação, do cimo da qual se desfruta de uma ampla paisagem. A sua população é de 1121 habitantes.»

As trovoadas no Azinhal

20 Junho 2014

Trovoada

No Azinhal, como em todo o Algarve, as trovoadas (descargas elétricas da atmosfera) são pouco frequentes. No entanto, no Azinhal também é conhecido o provérbio português segundo o qual «não há maio sem trovões nem burro sem colhões»… e esta é uma das zonas algarvias mais propensas ao ruidoso fenómeno atmosférico.
Já chegaram a ser registados trovões no Azinhal em 30 dias num ano (no Algarve o máximo é 31 no Ameixial e o mínimo é de 14 em Vila do Bispo).
A média estatística de trovoadas no Azinhal é de 14 dias por ano, como o máximo de 30 e o mínimo de 8.
As trovoadas têm como habitual causa depressões não frontais associadas a nuvens de desenvolvimento vertical, quase sempre cumulonimbus ou altocumulus castellanus, que provocam grandes aguaceiros e trovoadas passageiras em dias de acentuado arrefecimento noturno.
Em muitos desses dias, curiosamente, a evolução dos trajetos dos sistemas depressionários que afetam o Azinhal faz com que só se registe pluviosidade em zonas serranas e não no litoral.